por Picos,Teria de ser bem mais responsável no que diz respeito ao cumprimento de prazos, pois as consequências das minhas falhas recairiam sobre a minha tuna, mais ainda do que sobre mim. Aproveito a deixa para aqui introduzir o meu pedido de desculpas pelo atraso na entrega deste mesmo texto (afinal, foi para isso mesmo que comecei com este parágrafo… =X).
Como presidente da tuna, teria de construir uma capacidade enorme de gerir não só a minha tuna, como a minha vida pessoal que, seguramente, passaria a ficar um bocadinho mais condicionada. É que, se pertencer a uma tuna já exige tanto tempo e dedicação da nossa parte, presumo que dirigir uma exija ainda mais, sobretudo uma tuna com o rigor da TFIST. Isto conduz-me a duas conclusões: Só poderia candidatar-me num período em que a minha vida estivesse estável, sobretudo em relação ao curso, pois uma prescrição não seria nada bem-vinda; e teria de constituir uma direcção com pessoas trabalhadoras e de confiança, dispostas a trabalhar (mais comigo do que) para mim, para ninguém ficar demasiado sobrecarregado (embora acredite que, inevitavelmente, isso acabe por acontecer na mesma). Isto seria essencial, sobretudo na organização dos projectos de maior dimensão, como o nosso festival, a Expedição.
Uma das minhas missões seria conseguir valorizar todas as TFISTs da melhor forma possível; ou seja, de acordo com as suas capacidades, fazendo com que cada uma trabalhasse naquilo em que é melhor. Potencializando as capacidades de todas, conseguimos mais facilmente andar para a frente enquanto tuna. =) Para isto ser possível, teria de conhecê-las muito bem a todas. Pode parecer fácil pois, de facto, acho que conheço relativamente bem as pessoas de quem estou mais próxima; mas uma tuna é grande e, por mais que se goste muito de toda a gente (ou não!), nunca se conhece bem toda a gente… Porque há sempre gente nova a aparecer, e é impossível ter o mesmo grau de proximidade com todas. A gestão dos recursos humanos de uma tuna não me parece obra fácil…
Gostaria também de conseguir fazer com que os valores fossem passados às gerações mais novas. O carinho pelas fundadoras, o respeito pelas veteranas, a irmandade entre as caloiras, o espírito de entreajuda, sacrifício e dever, a praxe bem aplicada, a postura, a alegria, o orgulho, a verdadeira amizade… Tudo isto é fundamental para que o grupo seja uma tuna e não apenas o pessoal que se junta para beber uns copos e tocar umas malhas.
A qualidade musical é um aspecto importantíssimo, portanto, seria uma das minhas grandes apostas. Além das normais funções atribuídas à coordenação musical, focar-me-ia bastante no incentivo à aprendizagem. É muito importante que cada elemento encontre o instrumento que deseja tocar assim que começa a pertencer à tuna. É importante começar a aprender a tocar um instrumento cedo, pois, na minha opinião, custa mais começar do zero depois de nos habituarmos a usar apenas a voz; além disso, há um longo caminho a percorrer depois de começar porque se entra numa linha de aperfeiçoamento constante, portanto não há tempo a perder. Mas o motivo mais importante prende-se com o facto de nem sempre podermos contar com as pessoas que já tocam bem e que “seguram” determinado nipe de instrumentos. Mesmo que sejam muito assíduas, as pessoas nunca podem ser tomadas como garantidas, e um dia, eventualmente, também partirão definitivamente… Há que evitar os “fossos” nos instrumentos e preparar tudo com antecedência.
Como presidente, um dos meus maiores medos seria o de não conseguir manter acesa a chama dos dois pilares que, na minha opinião, compõem a TFIST: o rigor e a magia. O rigor significa isso mesmo, o cuidado, a rigidez quando é necessária, o elevado nível de qualidade, o trabalho árduo, a parte mais dura e exigente, no fundo. A magia é a parte mais difícil de explicar – ou aquela que me arrisco a caracterizar como inexplicável, mas vou fazer um esforço no sentido de a tentar explicar minimamente. A magia da TFIST é aquilo que faz com que o trabalho árduo valha a pena; é aquilo que nos impede de desistir mesmo quando nos apetece mandar tudo às urtigas e quando, à primeira vista, nos parece que não deveríamos estar a sacrificar-nos tanto por isto; é a voz que nos faz compreender que uma coisa tem de ser feita porque a tuna precisa dela, e não porque alguém se lembrou de nos dar trabalho só para nos lixar; é o orgulho em pertencer ao grupo e o orgulho no próprio grupo e na sua história; é o elo, é a força, é o que resulta do melhor e do pior que passamos juntas.
Não dependeria só de mim manter essa chama acesa, mas em última análise, se ela desaparecesse, a culpa seria minha. Algo de que não conseguiria perdoar-me…
Outro dos meus medos seria o de não conseguir fazer com que as pessoas se esforcem para dar o máximo de si. Da experiência que tenho como caloira, sei que não é possível obrigar as pessoas a darem mais do que aquilo que elas querem dar, por mais que gostássemos que todas dessem o mesmo. Sei que é complicado e por isso mesmo não aponto o dedo, eu própria nem sempre estou disponível para dar o máximo. As pessoas têm uma vida, cada uma define as suas prioridades e não sei até que ponto teria o direito de mudar as prioridades de cada uma. Se eu fosse presidente, gostaria muito de poder contar com todas as pessoas que estivessem comigo; caso contrário, provavelmente a tuna iria ressentir-se, pois uma presidente não pode manter uma tuna em pé sozinha (o que, no fundo, se pode aplicar a qualquer membro).
A gestão de tempos, stresses, personalidades, expectativas, dinheiros, objectivos e tudo o que uma tuna implica não seria também obra fácil. Acho que á demasiado difícil estar à frente de tanta coisa; no entanto, também acredito que pouca coisa numa universidade nos possa dar uma bagagem tão grande para a vida. Seria um desafio bastante interessante às capacidades de cada uma, tal como já o é ser mais um “simples” elemento.
O que seria afinal a minha direcção? Uma democracia grega, com homens livres, escravos e metecos? Uma tribo africana respeitadora dos seus anciãos? Um jogo liberal, mas com as suas regras? Uma família? …Um pouco disso tudo, talvez. Uma Tuna, no fundo. =)